Foi em
função da publicação do recente golpe financeiro, de tipo “pirâmide”,
possivelmente praticado pela empresa TelexFree, cuja propriedade é nebulosa,
que gerou os ataques aos sites. O que surpreende é que a “grande mídia” ficou
em silêncio, diante de uma flagrante violação do direto de espressão, tão decantado
por ela própria quando se sente ameaçada, sejam as ameaças reais ou não. Estranhamente
os sites atacados são “de esquerda”. E ai, o que acha?
(...) Haverá viés político no
ataque aos sites? Nada autoriza a afirmar que sim, mas certos fatores permitem
suspeitar. Por que os grandes grupos que dominam a velha mídia não tratam do
caso?
Quem são os reais controladores
da TelexFree? Haverá ligações entre eles e, por exemplo, os poderosos esquemas
de difamação, via internet, que tentaram bombardear a então candidata Dilma
Roussef, durante a campanha presidencial de 2010, em favor de outro postulante?(...)
Ataques ao site foram interrompidos logo depois de denunciados. Rede de
agressores permanece ativa: ministério da Justiça não pode permanecer omisso.
Outras Palavras de novo no ar
Por volta das 20h30 de ontem (13/7), começou a ser desmobilizado o
ataque que derrubou e manteve fora do ar, por quase 24 horas, os sites de Outras
Palavras. O recuo ocorreu logo depois de difundirmos, pelo Facebook e
por boletim de atualização disparado para 20 mil assinantes, a denúncia da
agressão. Mais ou menos no mesmo horário, também o site da revista Carta
Capital, que fora atingido de modo semelhante, voltou a ser
acessível. A ameça, porém persiste. A rede que atacou os dois sites permanece
ativa, e pode ser acionada a qualquer momento. Por sua natureza, só é possível
neutralizá-la de modo eficaz se houver ação do ministério da Justiça e da
Polícia Federal – algo que inexplicavelmente tarda, como revela Luís
Nassif neste post em seu
blog.
O gráfico
acima revela o que ocorreu com os servidores que hospedam Outras
Palavras, e confirma nossas hipóteses de ontem. Sofremos um Ataque de
Negação de Serviço, ou DDoS [veja Wikipedia, em português ou inglês (mais detalhado)]. A curva
indica o consumo de memória do servidor, ao longo do dia. O horário é o de San
Francisco (EUA), quatro horas a menos que em Brasília.
O volume
de memória contratado pelo site é 3,5 Mb, compatível com cerca de 10 mil textos
lidos ao dia. Durante a quarta-feira, porém, o consumo ultrapassou
frequentemente os 20 Mb, chegando a um pico de mais de 50 Mb e provocando uma
sucessão interminável de quedas. Programado para religar automaticamente, o
servidor era de novo derrubado, sempre que o fazia. Relatamos o ataque às 19h
(15h em San Francisco). Logo em seguida, a agressão refluiu.
DDoS é um
ataque de enorme poder que, no entanto, deixa rastros. Tornou-se mundialmente
conhecido quando empregado, em dezembro de 2010, pelo coletivo Annonymous, em
favor da liberdade de expressão e de Julian Assange (leia nossa matéria a
respeito). Em resposta a uma ação do governo norte-americano, que ordenou o
congelamento das doações feitas ao Wikileaks, cerca de 1500 ativistas do
Annonymous derrubaram, por DDoS, sites de mega-organizações financeiras como
Visa e Mastercard (que ajudaram no bloqueio financeiro). Nosso texto de então
revela: para participar de um ataque deste tipo, basta baixar um programa e
colocar o próprio computador na artilharia. No caso do Annonymous, os alvos são
escolhidos em reuniões via internet, em linguagem cifrada e, segundo o grupo,
sempre em favor das liberdades e direitos.
Mas e se
uma organização criminosa usar a mesma arma com objetivos opostos? Surge, neste
caso, uma ameaça extremamente grave à liberdade de expressão. A partir de 7/3,
foram sistematicamente derrubados os sites que se referiam a um golpe
financeiro, de tipo “pirâmide”, possivelmente praticado pela empresa TelexFree,
cuja propriedade é nebulosa. Caíram o blog Acerto de Contas (o primeiro a
tratar do tema), o blog de Nassif, Outras Palavras, Carta Capital,
jornais regionais que reproduziram as matérias. No caso de Nassif, a agressão
estendeu-se por quase uma semana, durante a qual o blog alternava momentos de
atividade com outros em que era derrubado. Tudo indica, portanto, que o esquema
permanece ativo, mobilizando-se ou refluindo segundo escolhas táticas.
Nesse
ponto, torna-se decisiva a ação das autoridades responsáveis por defender a
liberdade de expressão na internet – ou seja, ministério da Justiça, Polícia
Federal e polícias estaduais. Seu trabalho não é fácil, mas é perfeitamente
possível. Há profusão de indícios segundo os quais uma empresa procura
silenciar quem aponta suas ilegalidades – em particular, as “pirâmides”,
tipificadas há décadas como estelionato. O modus operandi da
empresa baseia-se em mobilização de pessoas que atuam fundamentalmente na rede.
Estas pessoas podem perfeitamente ter recebido, como parte de um pacote de
aplicativos “de trabalho” um programa que alista suas máquinas no ataque contra
os sites visados pelo esquema.
Há,
portanto, rastros, possíveis provas, um claro caminho de investigação. Mas,
conforme frisa Nassif, o
aspecto mais desconcertante do caso é a paralisia do ministério da Justiça, num
episódio em que lhe caberia articular a defesa de direitos e liberdades.
Haverá
viés político no ataque aos sites? Nada autoriza a afirmar que sim, mas certos
fatores permitem suspeitar. Por que os grandes grupos que dominam a velha mídia
não tratam do caso?
Quem são
os reais controladores da TelexFree? Haverá ligações entre eles e, por exemplo,
os poderosos esquemas de difamação, via internet, que tentaram bombardear a
então candidata Dilma Roussef, durante a campanha presidencial de 2010, em
favor de outro postulante?
Só a
investigação poderá responder. Por isso, e em nome da democracia, o ministério
da Justiça não pode permanecer de braços cruzados.
A Redação de Outras
Palavras
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