(...) Fazem
questão de ignorar que ele é o maior e mais importante programa antipobreza do
mundo e foi copiado por 40 países – é uma “transferência condicional de renda”
que objetiva combater a pobreza existente e quebrar o seu ciclo. (...)
(...) Estou
exausta de tanto ouvir que não há mais empregada doméstica, babá, “meninas pra
criar”, braços para a lavoura e as lidas das fazendas que não são agronegócios…
E que a culpa é do Bolsa Família! (...).
Médica – fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Eu não tinha a dimensão do ódio de classe contra o
Bolsa Família. Supunha que era apenas uma birra de conservadores contra o PT e
quem criticava o Bolsa Família o fazia por rancor de classe a Lula, ou algo do
gênero, jamais por ser contra pobre matar a sua fome com dinheiro público.
Idiota ingenuidade a minha! A questão não é de
autoria, mas de destinatário! Os críticos esquecem que a fome não é um problema
pessoal de quem passa fome, mas um problema político. E Lula assumiu que o
Brasil tem o dever de cuidar de sua gente quando ela não dá conta e enquanto
não dá conta por si mesma. E Dilma honra o compromisso.
Estou exausta de tanto ouvir que não há mais
empregada doméstica, babá, “meninas pra criar”, braços para a lavoura e as
lidas das fazendas que não são agronegócios… E que a culpa é do Bolsa Família!
Conheço muita gente que está vendendo casas de
campo, médias e pequenas propriedades rurais porque simplesmente não encontra
“trabalhadores braçais” nem para capinar um pátio, quanto mais para manter a
postos “um moleque de mandados”, como era o costume até há pouco tempo! E o
fenômeno é creditado exclusivamente ao Bolsa Família.
Esquecem a penetração massiva do capitalismo no
campo que emprega, ainda que pagando uma “merreca”, com garantias trabalhistas,
em serviços menos duros do que ficar 24 horas por dia à disposição dos
“mandados” da casa-grande, que raramente “assina carteira”. Eis a verdade!
Esquecem que a população rural no Brasil hoje é
escassa. Dados do IBGE de setembro de 2012: a população residente rural é 15%
da população total do país: 195,24 milhões.
Não há muitos braços disponíveis no campo, muito menos sobrando e clamando por um prato de comida, gente disposta a alugar sua força de trabalho por qualquer tostão, num regime de quase escravidão, além do que há outras ocupações com salários e condições trabalhistas mais atraentes do que capinar, “trabalhar de aluguel”, que em geral nem dá para comprar o “dicumê”. Dados de 2009 já informavam que 44,7% dos moradores na zona rural auferiam renda de atividades não agrícolas!
Basta juntar três pessoas de classe média que as
críticas negativas ao Bolsa Família brotam como cogumelos. Após a boataria de
18 de maio, que o Bolsa Família seria extinto, esse assunto se tornou
obrigatório. Fazem questão de ignorar que ele é o maior e mais importante
programa antipobreza do mundo e foi copiado por 40 países – é uma
“transferência condicional de renda” que objetiva combater a pobreza existente
e quebrar o seu ciclo.
Atualmente, ajuda 50 milhões de brasileiros: mais de
1/4 do povo! E investe apenas 0,8% do PIB! Sem tal dinheiro, mais de 1/4 da
população brasileira ainda estaria passando fome!
Mas há gente sem repertório humanitário, como as que
escreveram dois tuítes que recebi: “Nunca vi tanta gente nutrida nas filas dos
caixas eletrônicos para receber o Bolsa Família, até parecia fila para fazer
cirurgia bariátrica”; e “Eu também nunca havia visto tanta gente rechonchuda
reunida para sugar a bolsa-voto!”.
Como disse a minha personagem dona Lô: “Coisa de
gente má que nunca soube o que é comer pastel de imaginação; quem pensa assim
integra as hostes da campanha Cansei de Sustentar Vagabundo, que circulou nas
eleições presidenciais de 2010”. São evidências de que há gente que não se
importa e até gosta de viver num mundo em que, como escreveu Josué de Castro,
em Geografia da Fome (1984): “Metade da humanidade não come e a outra não dorme
com medo da que não come…”.
(Fátima Oliveira, em O TEMPO).
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