segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Elites – ‘familiares’ – controlam o sistema judicial, diz pesquisa da USP


É notória tanto a ‘entrada’ via concurso público bichado, seletivo, dig­a-se de passagem, como os critérios internos de ascensão via promoções por ‘mérito’.

Conheço um caso – claro que não dá para citar nomes ou maiores referências, retirei até o nome do Estado que tinha digitado inicialmente, sobretudo porque não tenho como provar, ali ó, no papel, como se diz – de um presidente de tribunal cujo filho fez um concurso para agente judiciário com as respostas de todas as questões no bolso.

Claro que ele passou. O detalhe é que, sem querer parecer preconceituoso, o dito cujo, o filho, era de uma ‘simploriedade’ que chegava as raias de imbecilidade. Digo isso porque convivi com o dito cujo, casado com a irmã de um amigo, e, até quando fiquei sabendo ele já tinha ascendido internamente, onde o seu pai era o presidente, como falei no princípio.

Agora, isso que vou relatar tem toda cara de lorota, como se diz, mas, o fato é que na sequência, algum tempo depois, eu e o meu amigo – cunhado do agraciado com o gabarito da prova e filho do presidente – tínhamos nos inscrito para um concurso ao mesmo cargo, agente judiciário, quando em meio ao nosso trato com as apostilas onde estudávamos juntos em sua casa, ele me apareceu todo sorridente, com o tal gabarito, praticamente às vésperas das provas, dizendo que o cunhado tinha conseguido para nós...

Acredite se quiser ou considere como achar mais conveniente. Eu dei um ‘piti’ ético-cívico em alto e bom som, que, como estava na casa do amigo, atingiu parte de sua família que estava nas imediações. Só sei que passado o susto diante de minha insanidade, praticamente romperem comigo na sequência, já que, depois do meu vexame cívico, ele não teve coragem de usar sozinho o tal gabarito e ambos perdemos no concurso.

Duro de acreditar, não? Pois é, mas foi o que aconteceu e como saldo fiquei sem o amigo e a família amiga.

Conto esta historia para ilustrar um pouco o que deve rolar com essas verdadeiras dinastias que reinam no Judiciário por todo o país. 

O tal da ‘simploriedade’ deve, hoje, ocupar o cargo – presidência – que foi do pai.

Fala-se tanto em reformas no país, mas ‘um lugar’ onde algo vai ter que ser feito é no Judiciário, para que nossos sonhos e/ou veleidades de construirmos um país efetivamente democrático e justo possam ser, de fato, concretizados.
"Elites controlam o sistema judicial, mostra pesquisa da USP
Tese conclui que elites jurídicas provêm das mesmas famílias, universidades e classe social.

São Paulo – Há, no sistema jurídico nacional, uma política entre grupos de juristas influentes para formar alianças e disputar espaço, cargos ou poder dentro da administração do sistema. Esta é a conclusão de um estudo do cientista político Frederico Normanha Ribeiro de Almeida sobre o judiciário brasileiro. O trabalho é considerado inovador porque constata um jogo político “difícil de entender em uma área em que as pessoas não são eleitas e, sim, sobem na carreira, a princípio, por mérito”.

Para sua tese de doutorado A nobreza togada: as elites jurídicas e a política da Justiça no Brasil, orientada pela professora Maria Tereza Aina Sadek, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Almeida fez entrevistas, analisou currículos e biografias e fez uma análise documental da Reforma do Judiciário, avaliando as elites institucionais, profissionais e intelectuais.

Segundo ele, as elites institucionais são compostas por juristas que ocupam cargos chave das instituições da administração da Justiça estatal, como o Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça, tribunais estaduais, Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Já as elites profissionais são caracterizadas por lideranças corporativas dos grupos de profissionais do Direito que atuam na administração da Justiça estatal, como a Associação dos Magistrados Brasileiros, OAB e a Confederação Nacional do Ministério Público.

O último grupo, das elites intelectuais, é formado por especialistas em temas relacionados à administração da Justiça estatal. Este grupo, apesar de não possuir uma posição formal de poder, tem influência nas discussões sobre o setor e em reformas políticas, como no caso dos especialistas em direito público e em direito processual.

No estudo, verificou-se que as três elites políticas identificadas têm em comum a origem social, as universidades e as trajetórias profissionais. Segundo Almeida, “todos os juristas que formam esses três grupos provêm da elite ou da classe média em ascensão e de faculdades de Direito tradicionais, como o Faculdade de Direito (FD) da USP, a Universidade Federal de Pernambuco e, em segundo plano, as Pontifícias Universidades Católicas (PUC’s) e as Universidades Federais e Estaduais da década de 60”.

Em relação às trajetórias profissionais dos juristas que pertencem a essa elite, Almeida aponta que a maioria já exerceu a advocacia, o que revela que a passagem por essa etapa "tende a ser mais relevante do que a magistratura”. Exemplo disso é a maior parte dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), indicados pelo Presidente da República, ser ou ter exercido advocacia em algum momento de sua carreira.

O cientista político também aponta que apesar de a carreira de um jurista ser definida com base no mérito, ou seja, via concursos, há um série de elementos que influenciam os resultados desta forma de avaliação. Segundo ele, critérios como porte e oratória favorecem indivíduos provenientes da classe média e da elite socioeconômica, enquanto a militância estudantil e a presença em nichos de poder são fatores diretamente ligados às relações construídas nas faculdades.

“No caso dos Tribunais Superiores, não há concursos. É exigido como requisito de seleção ‘notório saber jurídico’, o que, em outras palavras, significa ter cursado as mesmas faculdades tradicionais que as atuais elites políticas do Judiciário cursaram”, afirma o pesquisador.

Por fim, outro fator relevante constatado no levantamento é o que Almeida chama de “dinastias jurídicas”. Isto é, famílias presentes por várias gerações no cenário jurídico. “Notamos que o peso do sobrenome de famílias de juristas é outro fator que conta na escolha de um cargo-chave do STJ, por exemplo. Fatores como estes demonstram a existência de uma disputa política pelo controle da administração do sistema Judiciário brasileiro”, conclui Almeida.

 
Com informações da Agência USP

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